terça-feira, 30 de agosto de 2016



fotografia: Gilson Almeida
Texto: Jousefe de Oliveira

As Ninfas

Algumas fotografias despertam curiosidade, foi o que aconteceu comigo ao ver esta fotografia do acadêmico de jornalismo Gilson Almeida. Deparo com uma imagem simples, mas há certas informações escondidas dentro da fotografia, aguardando para serem reveladas, o conteúdo dela pode nos agradar ou não. Essas três meninas encostadas neste balcão de mármore, fez lembrar as ninfas, divindades incrivelmente belas onde traziam harmonia à natureza. É estranho fazer essa comparação, mas o fato é que essas três jovens estão de fato compondo um cenário urbano, trazendo a “harmonia” em sua contemporaneidade. Assim esta fotografia cairia no clichê de uma imagem comum, se não soubéssemos que estas mesmas jovens estariam ali consumindo entorpecentes. Jovens e o consumo de drogas, ai está uma revelação oculta nesta imagem que obviamente não nos agradaria. Vejo nesta fotografia uma triste realidade que fingimos não querer enxergar, tentar forçar uma invisibilidade para um problema cada vez mais visível, não seria uma boa solução. Enfrentar e reconhecer que esta juventude está passando por fases difíceis em tempos obscuros. Esta paisagem urbana fragmentada, caindo aos pedaços, pichações nos azulejos deste boxe abandonado, serviria como uma metáfora para estas jovens, uma juventude que quase não lê e julga qualquer coisa na internet como verdade. Ora, o próprio cenário retratado nessa fotografia de Gilson são frutos de péssimas escolhas. Há uma juventude cheia de ego e vazia de si, vazia de conhecimento, se tornarão possivelmente em uma massa manipulável principalmente para os porcos que vivem no poder. Assim essa juventude, essas ninfas, vão escrevendo ou melhor pichando o futuro com interrogações, vivendo numa cidade em decadência, onde a educação cai em desuso. Esta fotografia é de fato a impressão de uma realidade tão suja como as paredes e o chão da esquecida praça digital.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Fotografia: Catarina Carneiro
Texto: Jousefe de Oliveira

O Abutre

Vendo esta fotografia da acadêmica em jornalismo Catarina Carneiro, veio em minhas memórias a célebre fotografia de kevin Carter, fotógrafo sul-africano. Na fotografia de Carter, onde a mesma levaria a sua morte, mostrava um abutre a espreita de uma criança, no Sudão, retratando a miséria e o terror no qual aquela gente vivera. Não exatamente a história de Carter que me fez lembrar esta fotografia de Catarina, mas a composição absurdamente semelhantes. Uma icônica fotografia silenciosa e causadora de pensamentos perturbadores. A figura de um homem deitado ao redor da prefeitura e o urubu, figura mais que presente em cada canto desta ilha, tornar-se-ia numa fotografia de um retrato realístico da cidade de Parintins. Vale lembrar que o dito prédio da prefeitura, local desta fotografia se encontra tão abandonado como o homem ali deitado. Dois corpos ocupando o mesmo espaço, um acolhendo o outro, obviamente o urubu, esta figura negra, sentinela da cidade, o espreita. A sensação que tenho é que esta negra ave está ali como um espectador e tal como aquele moribundo aguarda sobras vindas dos homens, sobreviver seria a semelhança entre os dois.
Mesmo quando há a estetização desta imagem como o pneu ali servindo como moldura, a imagem em si é muito forte e dispensa legendas. Assim como a palavra legenda na sua origem em latim "legendus" significa “coisas que devem ser lidas”, e esta fotografia se faz jus de uma imagem a ser lida e pensada. Uma imagem que no silêncio diz muito e pensa, e nos conduz a pensar. Aos esquecidos, aos anônimos, aos abandonados, tanto os prédios como essas pessoas, aos inúmeros abutres espalhados pela ilha, estamos no meio desta tortuosa realidade. Seremos como Carter? Aquele que simplesmente registrou esta realidade. Ou seremos agentes de mudança? Mudar de fato essa situação, dar verdadeira atenção aos nossos semelhantes que por razões da vida se encontram nesta situação. Não sejamos espectadores, sejamos a mudança!


quinta-feira, 25 de agosto de 2016

 
Charge: Jousefe de Oliveira
Texto: Alberth Piedade e Letícia Lima

Proscênio Esquecido


O discurso do festival folclórico se caracteriza em uma expansão mercadológica da cultura. O que se tem visto nos últimos anos é uma inversão do contexto da história indígena tanto no meio social, cultural, estético quanto místico voltada para uma analogia de fortalecimento da indústria cultural com o fim de se tornar somente um produto de venda.
Em Parintins o festival folclórico vem se tornando cada vez mais destacado no cenário público e comercial, em detrimento as mudanças em torno da festa que antigamente se restringia apenas a pequenos grupos que brincavam pelas ruas da cidade, nota-se que o festival nos dias atuais ganhou impulso e seriedade, porém, toda essa transformação tem um preço e um objetivo a alcançar e aquele lado bonito e estereotipado apresentado na arena da cultura possui um lado obscuro e malicioso nos bastidores, que se resume em um aglomerado de mentiras, modificando o discurso cultural, social e de preservação se faz presente na estética.
Podemos observar toda essa ilusão se tornando ´real` diante o espetáculo na arena, através das alegorias indumentárias, itens e apresentações cênicas que mostram a cultura do povo indígena, dividida em parte verídica e ao mesmo tempo distorcidas das vivências do índio.
A ideia ideal de índio que é valorizada em quanto ser místico, guardião da floresta e ser social de importância fundamental para a miscigenação do Brasil. O índio é retratado no festejo como guerreiro, forte, curandeiro e em contraponto, vemos que não é bem isso que acontece em Parintins, este é descriminado, desvalorizado e não recebem nenhum auxilio do governo que possa lhes dar assistência. A casa do índio está jogada as traças e essa valorização só acontece bumbódromo a dentro, pois, fora da arena nem os próprios conterrâneos aproveitam a sua própria festividade, dando prioridade as pessoas de outras localidades.
Enquanto o cenário cultural se apresenta em meio as noites glamorosas, vemos a cultura de certo modo ser jogada fora por artistas e empresários que visam lucro e que não estão disposto em falar da cultura em sim e sua essência, a cultura é vista como um produto a ser vendido num espetáculo que somente os que possuem um melhor poder aquisitivo são privilegiadas.
O parágrafo acima se reafirma com a teoria de Walter Benjamin e Adorno Horkeimer, os autores analisam as alterações provocadas pelas novas técnicas de produção artística na espera cultural, sua tese principal é a reprodutibilidade técnica de provocar a superação da aura pela obra de arte constata essa tese como reflexão sobre a indústria cultural apresenta as contribuições que podem ser retiradas dessa analise para a atual reflexão a respeito dos impactos das tecnologias digitais, produção e cultura contemporânea.
O festival com toda a sua importância e credibilidade deveria mostrar um lado crítico sobre todos os problemas envolvendo a cidade de Parintins e o descaso social, cultural que ela sofre, podemos citar alguns exemplos como – a falta de infraestrutura e organização nos galpões, onde vários trabalhadores se submetem as jornadas intensas de trabalho e muita das vezes com o risco de sofrer acidentes e se veem a margem da sociedade contanto descaso, corrupção e falta de pagamento na qual todo trabalhador é digno do seu trabalho.
A manifestação folclórica se configura como uma serie de rituais, falar de cultura popular emana um conceito de um povo, para entendermos sobre analise crirtica do contra discurso apresentado dentro do festival, temos que abordar um tema recorrente ( A preservação) que por muitas vezes é cantada, encenada e valorizada
´´De um eterno destino
Proteger flora e fauna
Da destruição


É despertar o espirito
Da preservação´´. Boi garantido – O espirito da preservação
vale ressaltar que a festa dos bumbás levanta a questão da conscientização e de preservação da Amazônia, mas o que vemos é totalmente contrário a realidade. ´´Parintins dos nossos sonhos´´ não é como imaginamos, ao termino do festival as ruas se encontram cheias de alegorias, entrando em decomposição e os matérias usados, o lixo nas ruas se torna insuportável. As alegorias ficam por meses a céu aberto esperando o poder publico tomar alguma atitude, todo aquele material que foi usado para dar vida a uma festa com enfoque mundial, fica jogado sem reutilização o que causa mais degradação do meio ambiente.
O festival prega uma preservação velada que fala de amazônia em geral, porém, não dá importância aos problemas da cidade que se encontra em uma situação precária.