sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Fotografia: Catarina Carneiro
Texto: Jousefe de Oliveira

O Abutre

Vendo esta fotografia da acadêmica em jornalismo Catarina Carneiro, veio em minhas memórias a célebre fotografia de kevin Carter, fotógrafo sul-africano. Na fotografia de Carter, onde a mesma levaria a sua morte, mostrava um abutre a espreita de uma criança, no Sudão, retratando a miséria e o terror no qual aquela gente vivera. Não exatamente a história de Carter que me fez lembrar esta fotografia de Catarina, mas a composição absurdamente semelhantes. Uma icônica fotografia silenciosa e causadora de pensamentos perturbadores. A figura de um homem deitado ao redor da prefeitura e o urubu, figura mais que presente em cada canto desta ilha, tornar-se-ia numa fotografia de um retrato realístico da cidade de Parintins. Vale lembrar que o dito prédio da prefeitura, local desta fotografia se encontra tão abandonado como o homem ali deitado. Dois corpos ocupando o mesmo espaço, um acolhendo o outro, obviamente o urubu, esta figura negra, sentinela da cidade, o espreita. A sensação que tenho é que esta negra ave está ali como um espectador e tal como aquele moribundo aguarda sobras vindas dos homens, sobreviver seria a semelhança entre os dois.
Mesmo quando há a estetização desta imagem como o pneu ali servindo como moldura, a imagem em si é muito forte e dispensa legendas. Assim como a palavra legenda na sua origem em latim "legendus" significa “coisas que devem ser lidas”, e esta fotografia se faz jus de uma imagem a ser lida e pensada. Uma imagem que no silêncio diz muito e pensa, e nos conduz a pensar. Aos esquecidos, aos anônimos, aos abandonados, tanto os prédios como essas pessoas, aos inúmeros abutres espalhados pela ilha, estamos no meio desta tortuosa realidade. Seremos como Carter? Aquele que simplesmente registrou esta realidade. Ou seremos agentes de mudança? Mudar de fato essa situação, dar verdadeira atenção aos nossos semelhantes que por razões da vida se encontram nesta situação. Não sejamos espectadores, sejamos a mudança!


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