quarta-feira, 28 de setembro de 2016

SuBI-mundo

SuBI-mundo
Texto: Jousefe de Oliveira
Fotografias: Ramon Correia

Em conversas com o acadêmico Ramon Correia do curso de jornalismo, ele me mostrou umas fotografias da cidade de Parintins. Esta ilha tão caracterizada com muitos signos e elementos presentes em ruas, becos, vielas e praças, sempre me chamou a atenção, o qual é o objetivo desde blog, de dar maior visibilidade ao município em seus aspectos culturais, sociais e dessas paisagens urbanas tão viva o qual sempre me impressiona. As fotografias do Ramon percorre sobre a praça digital, um tema bastante comum para nós, cujos problemas são conhecidos pela maioria da população. O fato é que dentre as imagens entre urubus, lixo, pichações e todo esse cenário de abandono, uma imagem me instigou e me trouxe pensamentos filosóficos e poéticos é a fotografia de um homem deitado abaixo da praça digital, com aquelas descrições na parede, lembrou uma caverna, e nos apresenta como um indivíduo num submundo, levado ao esquecimento, ao abandono. Sobre esse universo cheio de signos, lembro do livro de poesias de Charles Baudelaire “Flores do Mal”:
A natureza é um templo em que vivas pilastras
deixam sair às vezes obscuras palavras;
o homem a percorre através de florestas de símbolos
que o observam com olhares familiares.

Como longos ecos que de longe se confundem
numa tenebrosa e profunda unidade,
vasta como a noite e como a claridade,
os perfumes, as cores e os sons se correspondem.
Há perfumes saudáveis como carnes de crianças,
doces como os oboés, verdes como as campinas,
e outros, corrompidos, ricos e triunfantes, 
tendo a efusão das coisas infinitas,
como o âmbar, o almíscar, o benjoim e o incenso,
que cantam os êxtases do espírito e dos sentidos.

Esse poema maravilhosa descreve o nosso “SER” e a nossa “REALIDADE”, temos a sensação de caminhar numa floresta do mal, cheio de signos e metamorfoses. Vivemos em tempos sombrios, esta figura do homem com características de homens das cavernas, abaixo da praça, retrata uma realidade que assim como está abandonada, parece perecer, desmoronar sobre os nossos pés. A política tem nos massacrado de tal forma, que ficamos na escuridão de nossas cavernas. A luz, seria a revolução? O conhecimento? Tudo parece retroceder no tempo. Ficamos alheio a muita coisa, nos sentindo vigiados por urubus, rodeados de lixo, sendo vítimas do medo, enfim, assim como esse homem que vive nesse submundo, nós também sofremos com essa modernidade cada vez mais medieval, nos recolhendo em nossas cavernas.





sexta-feira, 2 de setembro de 2016


Ilustração e texto: Jousefe de Oliveira
 

A cidade do medo

Vivemos em tempos difíceis, esta cidade antes considerada pacata, hoje se tornar-se-ia em ilha do medo. Tive uma breve conversa com a acadêmica Daniela Reis, ela me descreveu uma fobia adquirida aqui nesta cidade. O medo de ser assaltada, do medo das sombras, das ruas escuras, da casa em ser invadida, enfim, do medo que a atormenta e tira seu sono. Vendo a situação dela me pus a pensar o quão é atormentador é a nossa realidade, cada um se protege como pode, cada um se arma, cada um equipa sua casa com cercas elétricas, estacas, cachorros, o que tiver para se proteger do próprio homem, esse animal que atormenta e nos persegui. O medo se tornou um vizinho indesejável, suas sombras nos seguem até em sonhos. Foi-se o tempo onde casinhas de madeira compartilhavam quintais, onde nossos lares seriam o nosso cantinho da paz. A chuva, esta que traz alívio aos calores amazônicos, trazem também o medo de ter a casa roubada. O barulho da chuva com seus trovões e relâmpagos trazem consigo os más intencionados, e para os comerciantes o temor de suas lojas serem roubadas e terem seus nomes saindo no jornal da manhã como mais uma vítima de roubo. Chuva a noite, falta de luz, se transformara em um clima propício para os monstros da nossa contemporaneidade. Tanto na luz, como na falta dela, altas horas da noite ou em plenas primeiras horas da manhã de sol, não há horário seguro na ilha do medo. Ficamos assim mal acostumados com este tormento, ainda assim tentamos seguir a nossas vidas, perseguidos por motoqueiros que podem a qualquer momento levar nossos celulares, bolsas, dinheiro e tudo o que lhe convém. São tempos de medo, e esta palavra tão pequena faz estragos grandes na vida dos parintinenses, e o que resta pra nós? Como aquela música: “E agora José?” Fujamos, nos protejamos de toda a maneira possível, e torcer pra não sermos a próxima vítima.