sexta-feira, 2 de setembro de 2016


Ilustração e texto: Jousefe de Oliveira
 

A cidade do medo

Vivemos em tempos difíceis, esta cidade antes considerada pacata, hoje se tornar-se-ia em ilha do medo. Tive uma breve conversa com a acadêmica Daniela Reis, ela me descreveu uma fobia adquirida aqui nesta cidade. O medo de ser assaltada, do medo das sombras, das ruas escuras, da casa em ser invadida, enfim, do medo que a atormenta e tira seu sono. Vendo a situação dela me pus a pensar o quão é atormentador é a nossa realidade, cada um se protege como pode, cada um se arma, cada um equipa sua casa com cercas elétricas, estacas, cachorros, o que tiver para se proteger do próprio homem, esse animal que atormenta e nos persegui. O medo se tornou um vizinho indesejável, suas sombras nos seguem até em sonhos. Foi-se o tempo onde casinhas de madeira compartilhavam quintais, onde nossos lares seriam o nosso cantinho da paz. A chuva, esta que traz alívio aos calores amazônicos, trazem também o medo de ter a casa roubada. O barulho da chuva com seus trovões e relâmpagos trazem consigo os más intencionados, e para os comerciantes o temor de suas lojas serem roubadas e terem seus nomes saindo no jornal da manhã como mais uma vítima de roubo. Chuva a noite, falta de luz, se transformara em um clima propício para os monstros da nossa contemporaneidade. Tanto na luz, como na falta dela, altas horas da noite ou em plenas primeiras horas da manhã de sol, não há horário seguro na ilha do medo. Ficamos assim mal acostumados com este tormento, ainda assim tentamos seguir a nossas vidas, perseguidos por motoqueiros que podem a qualquer momento levar nossos celulares, bolsas, dinheiro e tudo o que lhe convém. São tempos de medo, e esta palavra tão pequena faz estragos grandes na vida dos parintinenses, e o que resta pra nós? Como aquela música: “E agora José?” Fujamos, nos protejamos de toda a maneira possível, e torcer pra não sermos a próxima vítima.

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