Fotografia: Catarina Carneiro
Texto: Jousefe de Oliveira
O Abutre
Vendo esta fotografia
da acadêmica em jornalismo Catarina Carneiro, veio em minhas
memórias a célebre fotografia de kevin Carter, fotógrafo
sul-africano. Na fotografia de Carter, onde a mesma levaria a sua
morte, mostrava um abutre a espreita de uma criança, no Sudão,
retratando a miséria e o terror no qual aquela gente vivera. Não
exatamente a história de Carter que me fez lembrar esta fotografia
de Catarina, mas a composição absurdamente semelhantes. Uma icônica
fotografia silenciosa e causadora de pensamentos perturbadores. A
figura de um homem deitado ao redor da prefeitura e o urubu, figura
mais que presente em cada canto desta ilha, tornar-se-ia numa
fotografia de um retrato realístico da cidade de Parintins. Vale
lembrar que o dito prédio da prefeitura, local desta fotografia se
encontra tão abandonado como o homem ali deitado. Dois corpos
ocupando o mesmo espaço, um acolhendo o outro, obviamente o urubu,
esta figura negra, sentinela da cidade, o espreita. A sensação que
tenho é que esta negra ave está ali como um espectador e tal como
aquele moribundo aguarda sobras vindas dos homens, sobreviver seria a
semelhança entre os dois.
Mesmo quando há a
estetização desta imagem como o pneu ali servindo como moldura, a
imagem em si é muito forte e dispensa legendas. Assim como a palavra legenda na sua
origem em latim "legendus" significa “coisas que devem ser lidas”,
e esta fotografia se faz jus de uma imagem a ser lida e pensada. Uma
imagem que no silêncio diz muito e pensa, e nos conduz a pensar. Aos
esquecidos, aos anônimos, aos abandonados, tanto os prédios como
essas pessoas, aos inúmeros abutres espalhados pela ilha, estamos no
meio desta tortuosa realidade. Seremos como Carter? Aquele que
simplesmente registrou esta realidade. Ou seremos agentes de mudança?
Mudar de fato essa situação, dar verdadeira atenção aos nossos
semelhantes que por razões da vida se encontram nesta situação.
Não sejamos espectadores, sejamos a mudança!
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